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Código de vestimenta: Por que ele ainda importa? Uma análise a partir do Festival de Cannes 2025

  • Foto do escritor: Mirella Matos
    Mirella Matos
  • 13 de mai.
  • 3 min de leitura


Começa hoje, 13 de maio, a 78ª edição do Festival de Cannes, um dos eventos mais prestigiados do cinema mundial. E, como não poderia deixar de ser, o tapete vermelho — um dos maiores palcos da moda internacional — já está em destaque. Mas neste ano, além dos filmes e das celebridades, um novo protagonista chama atenção: o dress code.


A organização do festival anunciou novas regras formais de vestimenta para o tapete vermelho, proibindo pela primeira vez a nudez (mesmo que parcial) e vestidos com volumes excessivos que prejudiquem a circulação dos convidados. A decisão, segundo fontes internas, se apoia em dois pilares: logística e decoro. Em edições anteriores, vestidos volumosos causaram congestionamento e atrasos na programação, enquanto looks mais ousados geraram desconforto entre os organizadores e foram tema de críticas nos bastidores.


Bella Hadid no Festival de Cannes de 2024
Bella Hadid no Festival de Cannes de 2024

Marina Rui Barbosa em Cannes
Marina Rui Barbosa em Cannes

Mas afinal, por que ainda existem regras de vestimenta em ambientes como esse? E qual é o impacto real delas?



A função do dress code


O dress code, ou código de vestimenta, não é apenas uma convenção social ultrapassada. Ele cumpre uma função simbólica e prática: comunica valores, estabelece limites e organiza o comportamento visual em determinados espaços. Em ambientes formais, como premiações, eventos diplomáticos ou cerimônias religiosas, o que se veste é parte do discurso — e do respeito à ocasião.


No caso de Cannes, o festival sempre foi conhecido por seu rigor estético. Em 2015, por exemplo, mulheres foram barradas por não usarem salto alto. O episódio gerou uma onda de críticas e levantou um debate global sobre sexismo e liberdade de escolha no vestuário feminino. A polêmica foi tamanha que atrizes como Kristen Stewart protestaram andando descalças no tapete vermelho nas edições seguintes.


Kristen Stewart
Kristen Stewart

Em 2022, outra controvérsia surgiu quando a influenciadora italiana Chiara Ferragni usou um vestido com transparência quase total, o que reacendeu discussões sobre os limites da sensualidade e da liberdade individual em eventos públicos.


Ou seja: o que se veste em Cannes não é só moda — é posicionamento.



Estética ou conservadorismo?


A proibição da nudez neste ano levanta uma questão importante: até que ponto o dress code regula a estética e até onde ele serve para manter normas sociais conservadoras? É um debate legítimo. A justificativa oficial seria “garantir a decência”, mas quem define o que é decente? E para quem?


Em contrapartida, há também uma perspectiva prática: eventos desse porte são transmitidos para o mundo todo, com um público diverso e patrocínios de grandes marcas. A imagem do festival — e de seus convidados — torna-se parte da construção de uma narrativa global, onde cada detalhe importa.



Quando o estilo entra em conflito com a função


Vestidos exageradamente volumosos, por mais cenográficos e memoráveis que sejam, podem se tornar um problema quando atrapalham a circulação no evento, causam atrasos ou exigem adaptações estruturais. Em Cannes, há relatos de 2023 e 2024 de artistas sendo repreendidos por atrasar sessões por conta do tamanho das roupas ou exigir mais tempo e ajuda para se locomoverem.


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A escolha por regras mais rígidas neste ano parece sinalizar uma tentativa de resgatar o equilíbrio entre expressão pessoal e fluidez logística. Afinal, estilo também pode (e deve) dialogar com contexto.



A roupa como linguagem


Em qualquer ambiente — seja um festival, um ambiente corporativo ou um evento social — o dress code funciona como um idioma silencioso. Ele orienta comportamentos, garante uma certa coesão estética e ajuda a preservar o propósito do espaço. Ignorá-lo pode ser um ato de rebeldia (legítima ou performática), mas também pode causar ruído onde se esperava harmonia.


O importante é entender que, mais do que impor limites, o dress code pode ser visto como uma estrutura que permite ao indivíduo escolher como se expressar dentro de um determinado vocabulário. E aí, mais do que se vestir bem, trata-se de se vestir com intenção.


Cannes 2025 nos lembra disso: que estilo e contexto caminham juntos — e que até a alta moda precisa, vez ou outra, lembrar-se da regra básica do vestir-se bem: estar à altura do momento.


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