Código de vestimenta: Por que ele ainda importa? Uma análise a partir do Festival de Cannes 2025
- Mirella Matos

- 13 de mai.
- 3 min de leitura
Começa hoje, 13 de maio, a 78ª edição do Festival de Cannes, um dos eventos mais prestigiados do cinema mundial. E, como não poderia deixar de ser, o tapete vermelho — um dos maiores palcos da moda internacional — já está em destaque. Mas neste ano, além dos filmes e das celebridades, um novo protagonista chama atenção: o dress code.
A organização do festival anunciou novas regras formais de vestimenta para o tapete vermelho, proibindo pela primeira vez a nudez (mesmo que parcial) e vestidos com volumes excessivos que prejudiquem a circulação dos convidados. A decisão, segundo fontes internas, se apoia em dois pilares: logística e decoro. Em edições anteriores, vestidos volumosos causaram congestionamento e atrasos na programação, enquanto looks mais ousados geraram desconforto entre os organizadores e foram tema de críticas nos bastidores.


Mas afinal, por que ainda existem regras de vestimenta em ambientes como esse? E qual é o impacto real delas?
A função do dress code
O dress code, ou código de vestimenta, não é apenas uma convenção social ultrapassada. Ele cumpre uma função simbólica e prática: comunica valores, estabelece limites e organiza o comportamento visual em determinados espaços. Em ambientes formais, como premiações, eventos diplomáticos ou cerimônias religiosas, o que se veste é parte do discurso — e do respeito à ocasião.
No caso de Cannes, o festival sempre foi conhecido por seu rigor estético. Em 2015, por exemplo, mulheres foram barradas por não usarem salto alto. O episódio gerou uma onda de críticas e levantou um debate global sobre sexismo e liberdade de escolha no vestuário feminino. A polêmica foi tamanha que atrizes como Kristen Stewart protestaram andando descalças no tapete vermelho nas edições seguintes.

Em 2022, outra controvérsia surgiu quando a influenciadora italiana Chiara Ferragni usou um vestido com transparência quase total, o que reacendeu discussões sobre os limites da sensualidade e da liberdade individual em eventos públicos.
Ou seja: o que se veste em Cannes não é só moda — é posicionamento.
Estética ou conservadorismo?
A proibição da nudez neste ano levanta uma questão importante: até que ponto o dress code regula a estética e até onde ele serve para manter normas sociais conservadoras? É um debate legítimo. A justificativa oficial seria “garantir a decência”, mas quem define o que é decente? E para quem?
Em contrapartida, há também uma perspectiva prática: eventos desse porte são transmitidos para o mundo todo, com um público diverso e patrocínios de grandes marcas. A imagem do festival — e de seus convidados — torna-se parte da construção de uma narrativa global, onde cada detalhe importa.
Quando o estilo entra em conflito com a função
Vestidos exageradamente volumosos, por mais cenográficos e memoráveis que sejam, podem se tornar um problema quando atrapalham a circulação no evento, causam atrasos ou exigem adaptações estruturais. Em Cannes, há relatos de 2023 e 2024 de artistas sendo repreendidos por atrasar sessões por conta do tamanho das roupas ou exigir mais tempo e ajuda para se locomoverem.

A escolha por regras mais rígidas neste ano parece sinalizar uma tentativa de resgatar o equilíbrio entre expressão pessoal e fluidez logística. Afinal, estilo também pode (e deve) dialogar com contexto.
A roupa como linguagem
Em qualquer ambiente — seja um festival, um ambiente corporativo ou um evento social — o dress code funciona como um idioma silencioso. Ele orienta comportamentos, garante uma certa coesão estética e ajuda a preservar o propósito do espaço. Ignorá-lo pode ser um ato de rebeldia (legítima ou performática), mas também pode causar ruído onde se esperava harmonia.
O importante é entender que, mais do que impor limites, o dress code pode ser visto como uma estrutura que permite ao indivíduo escolher como se expressar dentro de um determinado vocabulário. E aí, mais do que se vestir bem, trata-se de se vestir com intenção.
Cannes 2025 nos lembra disso: que estilo e contexto caminham juntos — e que até a alta moda precisa, vez ou outra, lembrar-se da regra básica do vestir-se bem: estar à altura do momento.




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