Roupa de Poder x Verdade Interior: O Peso de Vestir o que Não Somos.
- Mirella Matos

- 16 de jun.
- 3 min de leitura
Quando eu fiz a minha primeira formação em Consultoria de Imagem em ouvia certas frases, como mantras mesmo, e as comprei como verdade. Não posso apagar da memória e nem vou fingir demência o fato de as ter reproduzido. Foram coisas como: "Vista-se para o cargo que quer ter" ou "vista a sua armadura" ou como ainda vemos por aí, mas essa eu nunca reproduzi, "roupa de rica". Não sei qual desses conselhos é pior. Graças ao meu bom Pai, à muito estudo incluindo de mim mesma, eu me agarrei aos meus valores e decidi ser consciente e pesquisar pra trazer fundamento à minha comunicação, sem achismos ou opiniões sem empatia e respeito.
A armadura simbólica ( no caso a roupa e tudo o envolve a aparência) pode nos fazer parecer fortes, confiantes, com presença. Mas quando ela não expressa o que há por dentro, vira uma armadura pesada e perigosa. Foi refletindo sobre esse assunto que lembrei do conto O Cavaleiro Inexistente, de Italo Calvino.
Imagine um cavaleiro impecável. De armadura reluzente. Organizado, fiel, obediente às regras da cavalaria. Ele está sempre em pé, pronto para defender Charlemagne, lutar pelo reino, por honra. Seu nome é Agilulfo, o perfeito cavaleiro.
Mas aqui, cabe um detalhe crucial: não há ninguém dentro daquela armadura. Agilulfo não come, não dorme, não tem vontades próprias , ele existe só porque acredita, segue o código, as regras. Ele é uma forma viva, mas sem corpo de verdade.
Até que um boato o abala: dizem que a donzela que ele salvou, Sofronia, pode não ter sido virgem. Se for verdade, sua honra desaparece e com ela, seu direito de existir. Arrasado, Agilulfo sai em busca de provas, acompanhado por figuras muito humanas:
• Rambaldo, um jovem impulsivo marcado pela vingança intensa.
• Bradamante, uma guerreira forte que se encanta pelo ideal que Agilulfo representa.
• Gurdulù, seu escudeiro sem autoconsciência, inteiramente oposto à rigidez do cavaleiro.
Eles atravessam França, Inglaterra e até o Marrocos, até encontrarem Sofronia — que comprova sua virtude. Só que, no instante em que a dúvida é eliminada, Agilulfo não encontra mais razões para existir. Ele se desmancha, evapora, deixando somente sua armadura para trás. O metal permanece, mas sem vida, sem história.
A história de Agilulfo me trouxe uma outra perspectiva que queria compartilhar com vocês:
1. A imagem é como uma máscara e sem rosto por trás, desmorona.
Agilulfo era perfeito, aparentemente inabalável… mas vazio. Como nós, ao confiar demais no que vestimos e esquecermos quem somos;
2. A armadura pesa e a exigência por perfeição cobra seu preço.
Quem vive para parecer forte gasta energia emocional para manter a pose. Basta um sopro de dúvida, e tudo pode ruir.
3. Sem essência verdadeira, a máscara não serve a ninguém.
Quando a armadura é entregue a outro, rapidamente perde poder. Porque não é a roupa que gera força, mas o ser que nela se constitui.
A narrativa de Calvino é um espelho. Ela nos lembra que as fórmulas de elegância externa podem até gerar resultados – por um tempo. Mas a armadura mais impactante é aquela que reflete quem somos de fato. O brilho da imagem tem que nascer de dentro e não ser só casca.
Deixo aqui o link do conto de Italo Calvino e me coloco à disposição para mais discussões como esta, assim como para ajudá-la com meu trabalho de Consultoria de Imagem e questões associadas.





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