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Entre livros e espelhos

  • Foto do escritor: Mirella Matos
    Mirella Matos
  • 10 de mar.
  • 1 min de leitura

Atualizado: 3 de abr.


Ela chegou ao meu atendimento com uma mistura de curiosidade e resistência. Tinha um ar sério, olhar atento, a postura de quem passou anos imersa em teorias e pesquisas. Mestre, doutoranda, especialista na sua área. Sempre acreditou que a roupa era um detalhe menor, um apêndice do que realmente importava: o intelecto.


E, de certa forma, eu entendo.


Uma pessoa bem próxima minha, professora universitária, dizia o mesmo. Para ela, gastar tempo escolhendo roupas ou se dedicando ao autocuidado era um luxo fútil. O que valia era a mente afiada, o conhecimento acumulado, as ideias transformadoras. Cuidar da aparência? Perda de tempo.


Mas será que precisa ser assim?


A inteligência e o autocuidado foram colocados em lados opostos da balança, como se uma anulasse a outra. Como se a mente brilhante perdesse valor ao se preocupar com o que veste. Mas vestir-se bem nunca foi sobre futilidade. É sobre expressão, sobre postura, sobre traduzir, na forma, aquilo que já existe no conteúdo.


No meio da nossa conversa, minha cliente parou e refletiu: “Mas eu sou referência na minha área… a forma como eu me apresento também comunica, não é?”.


Exato.


A roupa não diminui o intelecto, ela o potencializa. Não é sobre trocar livros por espelhos, é sobre entender que a imagem também fala. E que não há nada de errado em querer que essa fala seja coerente com quem se é.


No fim do atendimento, ela saiu diferente. Não porque mudou de ideia completamente, mas porque passou a se questionar. E, no fundo, o questionamento é a essência de toda mente brilhante.


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